Imprensa Sindical: breve resgate, desenvolvimento e desafios

Por Ricardo Soares

A imprensa sindical adotada no Brasil, em meados do século XIX, tem origem nos imigrantes anarquistas italianos, espanhóis e portugueses, que trouxeram na bagagem, além da esperança de recomeçar uma nova vida, uma vontade enorme de lutar por melhores condições de vida e trabalho. Com a chegada desses trabalhadores estrangeiros, essa imprensa vai, gradativamente, se forjando como principal mecanismo de agitação e propaganda que, naquele contexto, se materializava por meio de bandeiras, cartazes, teatro e principalmente por jornais que buscavam contribuir na formação de uma consciência de classe por parte de explorados.
Ao longo dos anos, a comunicação sindical vai se moldando, ganhando novas roupagens de acordo com as mudanças das táticas de ataque do patronato. Hoje, no Brasil, ela atinge seu público, ou seja, os diversos setores da classe trabalhadora, através das mais variadas formas, inclusive por meio das ferramentas digitais, que nos últimos anos, têm feito os sindicatos investirem pesados recursos na comunicação por meio dessas ferramentas, visando o contato mais rápido com suas bases e, consequentemente, conseguir disputar a hegemonia da comunicação com os veículos da imprensa burguesa, a serviço dos patrões.
Na realidade, a disputa pela hegemonia na comunicação por parte da classe trabalhadora é um dos temas bastante discutidos nos últimos anos nos sindicatos e nos movimentos populares. dominantes”. Ou seja, a comunicação sindical foi perdendo seu caráter orgânico, classista, passando a replicar os vícios dos aparelhos de comunicação da classe dominante.

Fazendo uma digressão de uns 20 anos, por exemplo, nos departamentos de imprensa dos sindicatos, podemos observar como o uso das ferramentas digitais de comunicação, descolado do trabalho de base e de outras táticas de militância, vai acabar por contribuir no processo de burocratização dos sindicatos, afastando a base dos dirigentes e criando uma “militância virtual”. O dirigente sindical, peça fundamental no trabalho de base, vai povoar outros locais dentro do sindicato, deixando de ser comunicador orgânico. O Luiz Momesso, professor do Departamento de Comunicação Social da UFPE, em seu livro Comunicação sindical: limites, contradições e perspectivas, vai dizer que: “Montar aparatos de comunicação e esquecer a militância leva às mesmas práticas comunicativas das classesConsiderando que enormes contingentes da classe trabalhadora ainda têm muitas dificuldades com as ferramentas digitais de comunicação, uma boa alternativa seria uma periodicidade na publicação de jornais impressos dos mais diversos setores das organizações populares, entregues nos ambientes de trabalho, nas fábricas, nas periferias, etc. Pois a luta entre a mídia corporativa e a comunicação sindical é muito desigual, exigindo um constante esforço dos trabalhadores nesse sentido. Por um lado, a comunicação burguesa alcança todos os dias os trabalhadores pelas suas casas e locais de trabalho, por meio de televisão, rádio e jornais. Por outro lado, os sindicatos e demais entidades dos setores populares não têm essa mesma intensidade na sua comunicação.
É hora de repensar planos e estratégias de comunicação popular, visando contribuir na constante luta contra a imprensa burguesa. Essas estratégias, para se mostrarem eficientes, não podem abrir mão de estarem vinculadas a um intenso trabalho de base, muita agitação e propaganda, levando informações diretas e objetivas, que cheguem às mãos dos trabalhadores e trabalhadoras. E isso é só o começo, derrubar o gigante Golias!